data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Lucas Amorelli (arquivo)
O número de famílias que encerrou o ano de 2021 sem conseguir pagar todas as contas foi o maior registrado nos últimos 11 anos. Cerca de 88,7% dos lares gaúchos encerraram o ano passado com dívidas, enquanto em dezembro de 2020. o índice era de 71,6%.
É o que aponta uma pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores Gaúchos, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e divulgada pela Fecomércio. Um cenário com reflexos que devem seguir fazendo parte da realidade em 2022 e sem perspectiva de melhora para o primeiro trimestre deste ano.
A perda de poder aquisitivo, gerada pelo desemprego e pela realocação de profissional no mercado de trabalho, por exemplo, recebendo um valor menor, é um dos motivos elencados para tal agravamento. Ainda conforme o economista e professor da Universidade Franciscana (UFN) Mateus Sangoi Frozza, outro fator que interfere no endividamento são os gastos inesperados com a saúde, ainda mais neste período marcado pela pandemia e por um cenário de incertezas.
Além disso, de acordo com Frozza, é necessário que ocorra um letramento financeiro, uma compreensão do porquê se chegou a esse estágio de endividamento.
- Um exemplo é a própria dinâmica dos juros compostos presentes no cartão de crédito, no carnê das lojas e no financiamento do carro. Eu preciso entender porque cheguei nesse estágio de endividamento e muitas pessoas não entendem como chegaram nesse estágio, como uma dívida de R$ 1 mil vira R$ 5 mil em seis meses e vira R$ 10 mil em 12 meses, que é os juros compostos - explica o professor.
Para o início de ano, época acompanhada de gastos já considerados tradicionais para o período, o cenário ligado ao endividamento das famílias pode apresentar agravamento.
- É um período de muito gasto, é gasto com IPTU, IPVA, com material escolar e tem incerteza em relação a essa nova variante da Covid-19. Então não vejo perspectivas de melhoras para o nosso primeiro trimestre. De janeiro a março, eu não vejo mudanças significativas, ainda mais que o governo não acenou ainda com a continuação do auxílio emergencial, com a questão do Pronampe, que é uma linha de crédito para os pequenos empresários, com a renegociação das dívidas também para os micro e pequenos empresários - explica Frozza, ao ressaltar que o cenário é considerado nebuloso para que seja possível afirmar melhoras nesse sentido.
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Como delineamento de soluções para esses problemas Frozza elenca como sendo uma delas a renegociação, com um planejamento prévio e ciência de qual o valor da parcela passível de pagamento. Além disso, de acordo com o professor, outro ponto está relacionado à legislação ligada ao superendividamento, podendo ser feita uma recuperação judicial por meio do CPF e não pelo CNPJ.
- Eu aconselho as pessoas a buscarem advogados que trabalhem na linha do consumidor ou o próprio Procon para fazer esses encaminhamentos - orienta o professor, acrescentando que o momento é de mudança de comportamento, dos gastos serem revistos.
- Nada melhor o ano de 2022 com essa mudança - finaliza Frozza.
DÍVIDAS ATINGEM TANTO OS MAIS POBRES QUANTO OS MAIS RICOS
Em novembro de 2021, ainda conforme a pesquisa da CNC, o número de famílias endividadas no Rio Grande do Sul era de 86,1%. Número que subiu para 88,7% em dezembro de 2021, enquanto que no mesmo mês do ano anterior era de 71,6%.
Acréscimo que é percebido com mais intensidade nas famílias com renda menor, com rendimento de até 10 salários mínimos, com 90,9% estando endividadas, a maior porcentagem da série histórica.
As famílias de maior renda também não escaparam das dívidas. Em novembro de 2021, 75,5% dos lares mais abastados estavam endividados, número que subiu para 79,6% em dezembro.
Já em relação ao comprometimento com as dívidas, no momento, a média é de 6,8 meses, registrando um aumento ao ser feita a comparação com o mês anterior, quando era de 6,5 meses.
Em contrapartida, o percentual de famílias sem condições de pagar as dívidas nos próximos 30 dias registrou, segundo a pesquisa, nova mínima história, de 2,4%. A queda no indicador é avaliada como decorrente do comprometimento das famílias para estar com as dívidas pagas.